domingo, 16 de março de 2014

Atividades escolares: Texto: O padeiro (Rubens Braga) 4ª fase A,B e C

Atividades escolares: Texto: O padeiro (Rubens Braga) 4ª fase A,B e C:



ATIVIDADE PROGRAMADA.

O Padeiro - Por Rubem Braga

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer
café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No
mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre
a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um
lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que
obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei
bem o que do governo.



Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto
tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando
vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para
não incomodar os moradores, avisava gritando:



- Não é ninguém, é o padeiro!



Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?



"Então você não é ninguém?"



Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas
vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma
empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro
perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro:
"não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que
não era ninguém...



Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis
detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos
importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno.
Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma
passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros
exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do
forno.



Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante
porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu
escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o
pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu
recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos
alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

E assobiava pelas escadas.

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL.

1.  Segundo o texto, o que há em comum entre o trabalho de jornalista e o
trabalho de pedreiro?

2. O que significa abluções?

3. Qual o sentido da expressão “   greve do pão dormido” ?

4. Na crônica o padeiro, enquanto toma seu café da manhã recorda-se de
um antigo entregador de pães.

a. Quem narra a crônica?

b. Por que o entregador dizia que não era ninguém quando batia a porta
das casas das pessoas para deixar o pão?

c. Segundo o entregador, como ele teve a ideia de se identificar assim
as pessoas?

d. Transcreva o trecho do texto em que o narrador compara o resultado
de sua atividade com a atividade do padeiro.

5. O narrador se considera mais ou menos que o padeiro? Justifique sua
resposta com passagens no texto.

6. Qual a lição que o narrador revela ter aprendido com o padeiro?
Comente.

7. Qual a característica mais evidente ao padeiro?



8. Retire do texto um substantivo derivado?

sexta-feira, 14 de março de 2014

Texto: O padeiro (Rubens Braga) 4ª fase A,B e C

O Padeiro - Por Rubem Braga

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

"Então você não é ninguém?"

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"
E assobiava pelas escadas.